2.0 – Controle de Produtos Não Conforme
Antes de escrever este post, gostaria de compartilhar um pouco da minha experiência com o Controle de Produtos Não Conforme, toda organização deve controlar seu scrap (refugos), e evitar que o mesmo contamine os materiais bons na fábrica, impedindo seu uso não intencional e blá blá blá, mas no fundo no fundo, seria isto o verdadeiro significado de Controle de Produtos Não Conforme, ao abordar este assunto revivi uma passagem que tive na indústria que até então não compreendia como realmente deveria compreender.
Aos 20 anos de idade, tive a oportunidade de trabalhar em uma subsidiária da Honda Motors fabricante de componentes para carroçaria, e diariamente após o Taiso (relativo à ginástica laboral), ainda organizados em filas, praticamente como uma organização militar, um representante da área de qualidade (departamento no qual trabalhava), dirigia-se a frente de todos, tomava o microfone e juntamente com o colaborador responsável apresentavam os refugos do dia anterior. Neste momento eram apresentados os custos gerados pela falha, e possíveis soluções a serem tomadas para que não houvesse recorrência da falha. Naquele momento de minha vida me sentia de certa maneira constrangido por tamanha exposição ao erro e as pessoas envolvidas com a falha, e considerava injusta tal exposição.
Hoje mais maduro com relação ao ambiente fabril e ao lean thinking, me recordo do baixo índice de scrap naquela organização e da preocupação de toda a equipe com relação a atuar de maneira a evitar os erros que gerassem refugos (de certa maneira por medo à exposição). A maneira como era conduzida tais reuniões não era assertiva (ainda contínuo considerando mal realizada), mas gerava resultados de melhoria fantásticos, pois mesmo que por medo as pessoas se envolviam com os problemas e buscavam soluções para suas falhas.
Mas o quê gostaria de ressaltar é a verdadeira utilidade do refugo, a de gerar dados importantes para a melhoria contínua e não somente de custear e povoar indicadores, pois acredito que toda e qualquer falha serve para desenvolvimento da organização, e devem ser utilizadas como uma rica fonte de conhecimento a ser explorada.
Para o QSB, o Controle de Produtos Não Conforme está intimamente ligado ao processo de contenção, gestão e reação aos problemas, onde as empresas devem garantir que todos os produtos que não atendam as especificações sejam:
- Contidos e/ou Segredados;
- Devidamente protegidos contra o uso não intencional;
- Identificados de maneira adequada.
Onde a identificação (Gestão Visual), é primordial para assegurar que todo material refugado tenha destinação adequada. A utilização de etiquetas coloridas (atendendo a regra de semáforo), é recomendada, conforme exemplo abaixo:
Assim como a identificação das áreas de descarte.
A destinação das peças também deve garantir que o produto não possa ser utilizado de maneira não intencional, o uso de embalagens que não permitam acesso do operador ao produto também é bem vista (ex.: pescoços de girafa, bocas de lobo, caixas tipo cofre, etc.).
Por fim, simplificando, as organizações devem atender os seguintes requisitos para atender o QSB:
- O material Não Conforme deve ser claramente identificado, utilizando indicações consistentes (etiquetas coloridas);
- Segregado em áreas e embalagens devidademente identificadas;
- Contidos através de planilha de contenção, contendo localização, quantidade e disposição para o material segregado;
- Liberado utilizando um processo e autoridade definidos;
- Reintroduzido ao processo quando possível no posto anterior a sua fabricação, permitindo todas as inspeções e testes necessários para sua aprovação (classificados em Fluxo e PFMEA);
- Os procedimentos de contenção devem abordar inclusive os clientes (internos e externos);
- Refugo é impedido de uso e é monitorado com um plano de redução;
- Questões de contenção devem ser revisadas pela liderança.
Enfim, o QSB neste ponto trata definitivamente de impedir que o problema chegue ao cliente, mas não aborda o processo de melhoria contínua, que é abordado através do processo de Resposta Rápida e Redução de RPN.
No meu ponto de vista, a abordagem do controle de produtos não conforme deve envolver os colaboradores em sua totalidade, onde estes devem conhecer os impactos do mesmo na organização, afetando a sustentabilidade do negócio e principalmente ser uma fonte rica de informações para melhoria contínua, e não ser utilizada para intimidação, e sim, como um útil convite de incentivo à filosofia de melhoria contínua.
Até o próximo post, onde estaremos abordando as Estações de Verificação.